quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Ligação Sonora

Dás-me um sono romântico,
Ao ouvir-te falar.
Em modo semântico,
Uma ligação a viajar.

Pálpebras a cair
Numa pulsação que me chega à cabeça,
De cá não vais sair.

Efeito de embalar em teu coração,
Em toda essa paixão.
Que te traz em canção,
Que me toca em recrição.

Ondas sonoras que me levam e trazem.
Não estando aqui, nem lá.
Sussurros de ouv
ido que me seduzem.
Fico a meio caminho, fico cá.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Rompeste-me Amarrado

E fui assim apanhado
Sem querer,
Atrapalhado.

Chegaste de nenhum lado,
Sem te ver aparecer.
Rompeste-me amarrado,
Soltaste panos ao "viver".

Sou quem sempre tenho sido,
Sou mais do que imaginei ser.
É desse teu crime,
De teres conseguido,
No meu coração preencher,
Algo tão profundo e sublime.

Pesei em cada tempo
O peso de cada momento.
A busca constante de universo,
Nesse instante disperso.

Cheguei nestes versos,
Que se sentem poucos,
Que se sentem submersos,
Roucos,
Por uma montanha de te amar,
Feita de nós dois completos,
Um Cinco atrevido a sonhar,
Sonhos nos nossos dialectos.

A cada segundo anseio o dia,
De te ver comigo agora,
A cada segundo anseio a magia,
De um beijo que demora.

Não me largues pois então,
Já nos temos aqui e no horizonte,
Segure-mo-nos pela mão,
Mergulhados nesta inesgotável fonte.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Blues de Improviso

Babe, there's nothing we can do.
Let's stay and see the world split in two,
In our sentimental blues,
Like some kind of glue.

Nothing will set us apart,
Nothing will save us from each other,
Nothing will break us apart.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Um Cavaleiro Invencível

Era uma vez um cavaleiro que não o sabia ser.
Um cavaleiro cheio de receios do mundo.
Um cavaleiro para "inglês ver".

Com medo de moinhos de vento,
De montes alados,
Receando vida sem tento,
O presente, os futuros, os passados.

Mas perdeu o seu cavalo.
Pôs os pés no chão
A vida deu-lhe um estalo,
Deixou-o numa estrada em contra-mão.

E sucumbiu.
Partiu.
Subjugou-se às chuvas do Inverno,
Chegou a cheirar o inferno,
Mas renasceu.
Tomou o lugar que era seu.

Descomungou-se da lama,
Olhou a chuva e o Sol de frente.
Reconheceu o quê e quem ama.
Com uma serra a passar-lhe rente.

Registou-se como cavaleiro,
No registo do seu saber,
Cravou o coração no inteiro
futuro sabendo desconhecer.

Sem cavalo e com os pés no chão,
Sabe que a lama não mais o matará.
Que no futuro não tem mão,
Sendo ele quem o criará.

Um cavaleiro é-o de verdade,
Guerreiro invencível,
Procura vencer a tenacidade
Do que sentira impossível.

Guerreiro invencível,
Não porque sempre vença,
Mas porque enfrenta o temível,
Sabendo que a vida não morre para quem pensa.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Ninguém te Mandou Cortar a Minha Calma

Tens a tarefa incontestável de me provocar.
Apontas-te a mim,
Tens a tarefa ingrata de me encontrar.
Nisto é assim.

Ninguém te mandou cortar a minha calma,
Nem a minha pausada vida linear.
Ninguém te mandou entrar na minha alma,
Nem nos meus sonhos a recriar.

Descobrirás que sou mais do que isto.
Descobrirei que és aquilo que preciso.
Saberás que sou um misto.
Saberei que és meta de ciso.

Já conhecemos esta ciência oculta,
É um tornado horizontal.
Que nos leva não sei bem onde,
Perdendo forma adulta,
Sem bem, nem mal.

Espreitei o decote,
Provei os lábios,
Entrei na dança,
Demos o mote,
Seremos sábios,
Vida que não cansa.

E tudo acaba bem,
Só que nada acaba.

Seremos mais e melhores.
Um complexo inundar de ser,
Do teu inteiro universo de cores,
Tornas-me imortal, sem querer!

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Sou um Dado Viciado

Sou um dado viciado,
Seguindo caminhos desconhecidos.
Preferindo o danado,
Vincando sapatos, rasgando tecidos.

Sou um dado viciado,
Alternando dimensões,
Escolhendo arriscado,
Abordando temas, experiências, situações.

E todas as vias me levam a mim,
Nada me muda,
Um dado viciado, sou assim.

Nem o mundo que vemos diferente,
Nem a escolha, o corte tangente,
Te torna diferente.

Avancei cortando,
Num périplo de transformação,
Agora pensando,
Sou a mesma criação...

Por onde andemos vem lastro,
Ninguém o saberá existir,
Somente sendo um astro,
Somente quem o faça sumir.

Mas não me julguem engraçado,
Que por isso vazio,
Sou um dado viciado,
Meu próprio desvario.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Nem Desse Vosso Mundo Convexo

Por partes, seguirei.
Sou governado pela minha imperfeição.
Cometendo o mesmo erro, eu sei.

Um erro que me incomoda,
Num acto da razão absoluta,
Meu dizer é moda,
Uma teimosia puta.

Mas paremos para reflectir:
Não é o erro passado,
Do amigo cansado de corrigir,
Que nos dá alvará redobrado,
Para respeitar ou dormir,
Para o certo ou o errado.

Daqui segue-se em aviso merecido:
De modo algum servirei mais indiferenças,
Se se emprenha pelo ouvido.

Pois em consciência se encontra a razão:
De que o prazer se torna vício,
Quando largamos o respeito e a situação,
Por esse mero artificio.

Vulgar nos tornamos,
Quando o real deixamos,
Para nos embebedarmos,
Para nos ausentarmos.

Criaram esta relação em anexo.
Como se não sendo central,
Nem desse vosso mundo convexo,
Pudessem largar sem racional.

Eis a novidade:
Deixa de ser funcional.
Mesmo sem maldade forçada,
A indiferença mostrada, passa a ser meu racional.  

domingo, 11 de agosto de 2013

Terá de dar outras voltas


Já não és o inconsciente de outrora, 
O incontinente verbal, 
O triturador de falhas que chora. 

És um crítico intelectual 
Do teu próprio espaço. 
Um espectador magistral
De tudo aquilo que faço. 

Continuas a ter a noção, 
De que o tempo chega depois
Do toque da sua mão. 

Continuas a saber 
Que chegas antes do acontecer. 
Continuas a saber 
Quando deves fazer por merecer. 

Mas outrora foste ensinado, 
Que o mundo sentido assusta. 
Que é errado, 
Mais que custa. 

Portanto, 
Aquilo que é não pode parecer ser. 
Aquilo que nasce, não deve aparecer. 
Aquilo em que te soltas, 
Terá de dar outras voltas. 

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Até que ponto estaremos certos quanto ao amor ter um fim?



Tenho vivido a minha vida entre duas tendências: "O amor tem um prazo de validade" e o "O amor acabará se nós quisermos".
Não será legítimo pensar que nem tudo é como o pragmatismo humano conta?
Vou por partes:
O amor tem um prazo de validade? Há dias em que penso que sim. Que o amor vive até ao dia em que acaba. E desse dia em diante, estaremos a adiar o inevitável, a viver numa habituação e no costume.

Mas existem outros dias em que questiono esta mesma ideia de validade. Será que todas as relações nascidas de amor, têm apenas o fim do mesmo no tempo em que o quisermos oferecer?
Não estará a mente a pregar-nos uma partida?

Desde que nascemos, vemos à nossa volta um mundo em que o amor tem um fim. A altura do "não dá mais". A altura do "infelizmente já não é a mesma coisa", "espero que sejas feliz mas a nossa relação já não tem mais nada para dar".
Em Psicologia, é nos apontado o mundo em que nascemos e as experiências que vivemos como a origem da nossa Pessoa.
Será que a envolvência em que vivemos, não nos formata a cabeça para tal escolha na nossa vida amorosa?

Certo será que existem relações impossíveis de continuar. Nem toda a lagarta dá borboleta.
Mas, será que enquanto amantes, não cortamos relações pelo simples facto de a nossa cabeça estar formatada para tudo ter um fim?
E se afinal nada tiver um fim?
E se no meio de todos estes anos de evolução, o ser humano acrescentando saber à capacidade de lidar com os seus sentimentos, estiver simplesmente a errar e a perder amores séculos após séculos?

Afinal, até onde o cosmos nos molda a mente? Afinal, até onde a nossa mente somos nós? Até onde as nossas escolhas são válidas? Até que ponto estará o ser humano certo quanto ao amor ter (sempre) um fim?

terça-feira, 4 de junho de 2013

Passos

Largos e pequenos.
Rápidos e vagarosos.
Começam de muito menos,
Inconsequentes, jocosos.

Trapaceiam-se atordoados,
Na posse de quem não os conhece.
Sapateado infantil sem sapatos,
Tormentos de quem os tece.

Gozo de mil espectadores,
Da ignorância dos adultos:
A beleza desses momentos construtores,
Nos ladrilhos, esses mil tumultos!

Os passos deixam  de ser quem são,
Criam-se na constante obstinação,
Dos obstáculos na sua dimensão,
Os passos deixam de ser quem são.

A inocência dos primeiros passos,
Rejeita a beleza da sua simplicidade.
A inocência dos primeiros passos,
Perde-se na idade.

A vida é mais bonita no vulgar significado,
De que os passos são passos no chão.
A vida é mais bonita no vulgar significado,
De que os passos nunca sofrerão.

Urge ler a simplicidade da vida na ignorância da primeira vez.
De quando caímos e choramos.
De quando rimos e saltamos.
Mantendo-te criança nos passos do que lês.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Dor Desconhecida


É física.
É um raspar, um corte, uma luxação.
É critica.
É um romper, um partir, uma contracção.

Diverge entre feridas e mutilações.
Remedeia-se com Midas ou medicações.

E é transcendente.
É uma fala, uma palavra, uma acção.
É inteligente.
É um verbo, um nome, uma altercação.

Corrói do fundo ao exterior.
Remedeia-se com tempo ou perdendo rancor.

Prepara-mo-nos para o que conhecemos.
A dor, como emoção cíclica
Passa com o Saber quem ao redor temos.
Só ela: metafísica.

A dor, a mais contrastante,
Bulímica, rítmica, retumbante,
É o anúncio de quem nunca Soubemos.
A demonstração de quem nunca assim cremos.

A vida faz o favor de o demonstrar,
Que a quem sempre viste serenidade,
Te arrancou a capacidade
De ouvir, de perdoar.

Que a quem sempre viste serenidade,
Se demonstra uma mentira nesta verdade.

A física esconde a suplantação,
O conhecimento de alguém te recupera,
Mas a descoberta de uma mentira te rasga.

E conquistas valias,
Que te farão ver luz ao voltares ao fundo.
Susterás nas nuvens frias,
E ao respirar beberás do mundo.


   

sexta-feira, 17 de maio de 2013

A normalidade é-me demasiado chata














O que faz do amor aquilo que é?
Que estranha sensação que gira o Mundo.
Longe da água e a perder o pé.
A ausência que traz um normal profundo.

Quando vivido, esbulha-se num passado questionável.
Se ausente, é vida que não se sente,
É logro, é mentira, é fraude, é irrealizável.

O que é o amor quando não mora?
Este estranho momento dando-nos certezas da vida.
Este estranho momento de máquinas lá fora.
O que é o amor quando não se lida?

Máquinas!
Ah, rodas dentadas humanas!
Presas na minha mente, demasiadamente livre de colorido.

Mais do que esta normalidade largada no meu pavor.
Há um receio de que seja este o sentido da vida.
Mais do que o tédio de um apaixonado sem paixão ou amor,
Há o medo de que tudo seja apenas isto:

Um só e longínquo traço vivido entre paredes e tectos.
Um cinzento sem tom, de sistema binário.
Um sem número de intelectuais projectos.

Esta estadia é demasiado curta para existir sem emoção.
Sim, o previsível não mata.
Sim, o calculado é a melhor acção.
Mas a normalidade é-me demasiado chata.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Ainda não me lembro de ti como és



Ainda não me lembro do nosso primeiro beijo. 

Da música que nos cercava,
A conversa que criou o ensejo, 
Dos olhos em tua boca que me olhava. 

Ainda não me lembro dos traços da vertigem, 
Ao subir o castelo da cidade, 
A paisagem que teus cabelos tingem,
Os calafrios da nossa novidade. 


Ainda não me lembro do mergulho conjunto, 
Da água que nos separava e juntava, 
Do abraço apertado tornando-se assunto, 
Da areia que pisava. 

Ainda não me lembro do cinema. 
Da luta de pipocas apaixonadas, 
Do empurrão ao "sem tema", 
Dos primeiros sentimentos em risadas. 

Ainda não me lembro do nosso choro. 
Do momento de dor unidos, 
Das mãos que se enlaçam em coro, 
Do mundo em que estivemos feridos. 

Ainda não me lembro de nada. 
Porque o passado é apenas presente
E o futuro se faz agora somente. 
Numa vida obtusa que parece errada. 

Ainda não me lembro de ti como serás, 
Porque a vida é uma réplica aperfeiçoada
Uma repetição melhorada, se assim a farás. 

Ainda não me lembro de ti como és: diferente. 
Sei que existes, igual, só então somente... 

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Carruagem


Encostei-me a uma das laterais e olhei a carruagem bem ao fundo. Um silêncio profundo de que o ressoar dos carris em ferro já fazem parte.
Na minha cabeça saltou a "velha máxima": "Ninguém fala com ninguém nos transportes hoje em dia. Cada um segue o seu caminho. Entra mudo e sai calado."
E a minha percepção entrou em desacordo.
A rapariga que escreve uma mensagem no telemóvel. O homem sentado à frente dela que se questiona sobre o conteúdo da mesma. A mulher ao lado do homem que está cansada e fascinada com as botas da outra mulher que à minha frente boceja sem parar com os olhos vermelhos de sono. Um bocejar que contagia a rapariga numa animada conversa com o namorado, sem sequer abrirem a boca, sentados atrás de mim.
Alguém que se pergunta no final da carruagem se conhece outra pessoa que está sentada algures mais à frente. Os pensamentos de um adolescente de phones nos ouvidos berram mais alto (não os phones, os pensamentos) que os carris.
Nesta ponta está alguém que se pergunta sobre o significado do silêncio com tantas perguntas e conversas e palavras num transporte público.
Alguém que conclui que uma carruagem de metro, trás consigo uma multidão de diálogos, monólogos, perguntas retóricas e preocupações.
Alguém que conclui que a carruagem é o lugar onde mais pessoas falam umas com as outras, ainda que sem abrir a boca.
Alguém que conclui que uma carruagem pode ser, de alguma forma, o espelho dos mundos.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Os cães aqui da rua


Nesta rua há uma data de cães com problemas de personalidade.
Já houve até uma cadela estilo Camões:
Era zarolha e à noite declamava.

Vão indo e vindo numa onda de variedade,
A ladrar atrás do carro a plenos pulmões.
E o vizinho lá berrava.

Já houve até um Alemão que coxeava com o dono.
Um outro sempre doente.
Um outro estilo mono.
Um desvario de cães eloquente.

Mas não se amontoam!
Substituem-se.
Como se ao fim de um mês, saíssem ao intervalo de um jogo.
Antes que a cabeça aos vizinhos moam,
Diluem-se.
Da noite para o dia em desafogo.

Agora andam por cá os dois do costume.
Um comprido que só dorme e olha ao longe,
Que se aquece ao sol e à noite quando há lume.

E um minorca estilo raposa cheio de anabolizantes,
Que ladra como porteiro de discoteca.
Um anão enterrado em esteróides e "ridicularizantes",
Que não se deu conta da falta de "estaleca".

Se fossem uma equipa de futebol, estes eram a equipa base.

Agora há ainda um "mini-cão" anteriormente fechado,
Vivia para ladrar como se fosse um "expert" em telecomunicações.
Viu-se agora libertado,
E deixou de tecer considerações.

Aparece ao final da estrada,
E basta chamar que vem a correr.
Leva umas festas a criatura mimada,
E obedece sem conhecer.

Se fosse um poeta,
Porque Vive o Caminho inteiro,
A sentir o mundo sem atenção na meta,
Seria Alberto Caeiro.
 

sexta-feira, 15 de março de 2013

Ás vezes, o mundo é feito de papel

Ás vezes, o mundo é feito de papel.
O vento é o vento,
O sol é o sol,
O seu nascer não é mais um lago de mel.

A cor é a cor,
Os cheiros são os cheiros,
Uma flor, uma flor.

O acender dos candeeiros é apenas o respirar de uma rotina.
O abrir a cama um pedaço dela.
Sabemos o mundo que nos ensina,
Sabemos estes dias a sua aduela.



Reside agora numa palavra mais dura,
Num arrancar de gargalhada.
Num sarar a amargura.
Ser uma espécie de almofada.

Somos então felizes pelo que damos,
Pelo que apontamos.
Responsáveis por quem sempre esteve lá,
Por quem de novo aparece por cá.

Somos apenas nós próprios.
Num pleonasmo expressivo do que fomos.
Alojamo-nos nestes ópios,
Reforçando o que somos.

Somos só uma solidão durável e querida.
Que vive sozinha e interessada
Que ajuda da bancada.
Na felicidade dos que vêm mais vida.

Ás vezes, o mundo é feito de papel.
Vivemos do real e do que vemos acontecer.
Ás vezes, o mundo é feito de papel.
Até aquele sol tornar a nascer.

domingo, 10 de março de 2013

Virá a Igualdade e a diferença - Um aviso ao leitor

Julgarás que aquilo lês, 
Nunca fará de ti escravo, 
Não passará de ficção.
Mas quão errado o que crês. 

Deixa-me dizer-te que cada palavra aqui escrita, 
É teu passado, presente ou futuro. 
Um pardo rumo que a todos incita, 
A fuga que em poeta procuro. 

Nada do que houve em ti, será mais. 
Tudo o que construíste, sentiste, criaste:
Não será mais. 

Ninguém que tiveste tão perto, sentirás de novo. 
Tudo o que foram, sentiram, viveram: 
Não sentirás de novo. 

A amizade que julgaste tua, 
O amor que julgaste teu, 
A família que julgaste global:
És sozinho numa rua. 
Cristão e ateu.
Triste... Fatal. 

Dirás a ti que o mundo te ignorou. 
Que a vida te deixou. 

Dirás que nada mais de ti levará. 
Que nada mais em ti haverá. 

É estratégia, 
Coisa régia. 
De larga coroa, 
Não é coisa boa.
Olhado de lado como que desconfiado, 
"Fora de tempo" é o que te deixa irritado. 

Deixa mudar o vento. 
Vir as flores, o sol, 
E aquele sopro no destinado momento. 

Voltarás a sê-lo. 
Haverá de novo em ti. 

Será isso, mas completamente diferente. 
Será a igualdade e a diferença. 
Como a vida e a morte. 
A realidade não mente. 
Mesmo a quem não tem crença. 
Mesmo a quem deseja um corte. 

segunda-feira, 4 de março de 2013

A Vida, a Cidade


Lá fora as luzes da cidade enervam a escuridão de uma noite sem lua.
A calma do mundo repousa nos semáforos activos em estradas desertas.
A pequena brisa: o singular repouso das almas.

E sim, somos este mundo. Somos a vida que nos é entregue.
A vida de quem não se corre atrás, de quem não se soluça em desespero sem que venha uma mão cheia de nada.
A vida é e tem de ser vivida em procura pela felicidade.
Mas uma procura de vivência. Uma procura que acontece pelas peripécias. Uma procura livre de sofreguidão. Uma procura simples. Uma procura nas sortes e nos azares.

De manhã, as luzes da cidade estarão desligadas. O Sol raiará novamente.
O mundo correrá apressado nos semáforos de estradas lotadas.
A pequena brisa nem se sentirá, no meio de tanto excesso.

E o que é a Vida, se não uma sucessão de madrugadas e manhãs de uma qualquer cidade?

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Cala-te um bocadinho...

Chegas-me à porta meio aflita,
Que te falta o ar, o açúcar e a hortelã, 
Que se vai a luz e o cão do lado que te irrita, 
Que a crise não é tua cidadã!

Chegas-me à janela meio insegura, 
Que te acaba o gás, a água e o perfume, 
Que o amor se foi e o tesão ninguém te cura, 
Que "é o costume"!

Tenho os dois cães a ladrar, 
E não me dás descanso. 
Se te pudesses calar, 
Para te anunciar o quanto alcanço!

Não! 
Chegas-me ao carro toda assustada, 
Que te faltam mimos, a mini-saia, a televisão, 
Que se foi o dinheiro, tens a casa assaltada, 
"Ajuda-me! Compra-me uma mansão!"

Que alívio agora que te calas. 
"Vou ver do ladrão.
Protejo-te, mas vê se não falas!
Confesso-te que há meses te tenho no coração."

Prendes a fala com um beijo arrancado e um sorriso, 
Percebendo que me prendias 
A confissão do que sentias, 
Com a tua falta de siso. 

Por via das desgraças, 
Por ventura haverá ladrão. 
Não sou um tipo de "massas", 
Mas esta, é agora a nossa mansão. 

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Amor



À noite quando me deito, 
Ainda te procuro na cama. 
Por entre toques de belo efeito
Como do oxigénio a uma chama. 

À noite quando me deito, 
Meu coração já não fala. 
Só a cabeça teu nome rarefeito
Num vazio calado que não cala. 

À noite quando adormeço, 
Minha respiração já não treme. 
Começa o pesadelo onde te peço
Numa febre que geme. 

À noite quando durmo, 
Vem o silêncio do teu grito. 
Um caminho sem rumo, 
Um paradoxo rescrito. 

Ao passado largaste-me a passagem. 
Vedaste-me a imensidão. 
Cerraste-me vista
Numa clara mensagem:
"Eis teu destino, sem solidão, 
Eis teu futuro, arrisca." 

Ao presente largaste-me a surpresa. 
Abriste-me a cortina. 
Mostraste-me a admiração.
Sem necessidade de auto-defesa, 
Meu modo, minha sina, 
É ter-te em destino na mão. 

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Completamente desprevenido


E em dias pedi mais que o Sol e a Lua. 
E em dias pedi mais que a Praça e a Rua. 
Por vezes pedimos tanto algo, que a vida nos desprevine. 

Desses, alargaram-se novos dias, 
E de novo fiz os pedidos com base em teorias. 

E numa partida, 
Avisada, mas pueril, 
Um encontrão com força de dois mundos. 
Novidade da vida, 
Um estado febril, 
Registado em segundos. 

E naqueles instantes recebi o universo. 
E naqueles instantes recebi a cidade. 
Bateu-me de frente a vida caindo o inverso. 
Acertou-me em cheio a luz da insanidade. 

Não era suposto assim, agora, aqui. 
Mas sim algo que a razão não ignora.

A paixão pura que agora me habita,
Teve o condão de me arrancar à dor maldita.

Por vezes pedimos tanto um mundo novo e alado,
Que a vida nos lança a surpresa, o inesperado.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Na minha barricada



Sento-me na minha apatia e resigno-me.
Tento o senso: é razoável.
É uma impossibilidade... e castigo-me.

Preciso de saber,
Não quero minimamente saber.

Preciso ouvir,
Não quero minimamente ouvir.

E se a minha perseguição acalma em largos momentos,
Sitio-me na minha bancada, largada em meus intentos.

A vida é pacata e letárgica.
O mundo é de uma simplicidade material.
Sem nenhum passo de mágica,
A inexistência de vida é a vida ideal.

E da minha barricada, recaio lentamente em teus passos.
Como eles serão e o que simbolizam.
Falo-te no senso comum de uma criação de laços...
... Não! E teus passos de medo frisam:
O que da letargia parecia acabado.

Triste sina a de um coração rebentado:
Que por tantos buracos escancarado,
Nos parece cheio de certezas
E depois cheio de seus opostos.
E as belezas do passado, e as lágrimas, e os gritos a postos.

E larguem-me ao vento!
E soltem-me!
E dotem-me de novo intento!

E façam bofetadas largas de nova vida,
Me rebentarem a boca!
Me fecharem a ferida!

E que se acerque de mim nova existência,
E me deflagre a rotina de um novo estampado.
Me dilacere de um novo cheiro, de uma nova essência...
De um novo mundo, com mesmo ou melhor significado.

domingo, 27 de janeiro de 2013

Agora, sou desconhecido: Feito de infinitudes.

Que força é essa?
Que força é essa que ao te ver,
Se torna indesmentível a vontade de te ter?

Que força é essa?
Que força é essa que te querendo não te quer ter?
Que desejando teus lábios, não os quer ver?

Que mundo é este em que me encontro?
Que modo de viver,
É o querer ter e o seu contrário?

Que mundo é este em que me encontro,
Que mais parece literário?

Se eu penso,
Digo,
E já não queria dizer.
Se é tão intenso,
Sigo,
E já não quero ver.

Que vida é viver e não viver?
Que vida é amar e não querer amar?
Que vida é querer o sol e a chuva?
Que vida é querer estar e deixar?
Que vida é querer tocar e usar luva?
Que vida é o fogo e a água?
Que vida é o correr e estático?
Que vida é o inquieto e o sorumbático?

E ser tudo isto num único momento, em todos os momentos de uma vida?

Afinal, que sou eu?
Que me aconteceu?
Que pessoa?
Se a cada momento de decisão dura ou simplificada,
Não há nada que mais doa,
Que sentir qualquer das escolhas errada.

Fui o que fui.
Vivi o que vivi.
Primeiro por mim, depois por ti.

Agora, sou todos os contrários do Mundo.
Das batalhas contínuas internas e rudes.
Reflexo numa indefinição sem fundo.
Agora, sou desconhecido: Feito de infinitudes.

sábado, 26 de janeiro de 2013

I Dreamed a Dream


Existem músicas que acompanham o nosso estado de espírito e outras que alteram. Esta é uma das que o alteram. Como se o mundo parasse, não repentinamente, mas como se de uma leve brisa se tratasse.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Encontrei uma Pedra

Há alguns meses atrás estava eu num jardim. Era o jardim mais bonito que já vira. O jardim mais perfeito. As flores eram incontáveis, o sol brilhava, os canteiros estavam sempre perfeitos. Pássaros rasavam a minha cabeça. Chilreavam nas árvores. Era o jardim mais bonito e mais perfeito de sempre.

E quando, de mão dada, andava com os pés a tocarem a relva molhada, tropecei num pedra. Era uma pedra normal. Nem muito grande, nem muito pequena. Era apenas uma pedra.

Voltei no dia seguinte ao jardim. E examinei a pedra. De repente dei por mim frente-a-frente com uma rocha. Não era uma simples rocha. Era um menir. E esse menir era afinal tão grande e tão alto que mais parecia uma montanha. E comecei a partir a rocha. Com um martelo fui partindo. Fui esculpindo. E levou horas...

O trabalho não terminou por ali. Voltei noutro e noutro dia. E finalmente consegui chegar ao centro da rocha! Parti, rebentei, esculpi, martelei. Não deixei nada por partir até chegar ao núcleo daquela montanha de rocha. E quando aí cheguei... Encontrei mais rocha? Perguntará o leitor com toda a sapiência e lógica que de facto teria. Mas para minha e sua surpresa: não. E que encontrei eu, se não se tratou de mais rocha? A resposta é "nada". Encontrei vácuo.

E larguei as ferramentas no chão que não era mais relva molhada, de um jardim que afinal... se tratava agora ou sempre de um infinito branco. O chão branco. E nem paredes, nem tecto. Só infinito branco.

A montanha de rocha lá a deixei. Aberta até ao núcleo, tal como a larguei.
Deixei para sempre ou por momentos (não sei) aquele espaço infinito e segui num passeio curto.
Lá, ficaram apenas o infinito branco e a montanha de rocha aberta, esperando que o nada seja preenchido.

O caminho de volta poderá sempre ser feito. Porém outros jardins, outras cidades, outros campos existirão.
Mas Aquela rocha... Essa lá estará. E o caminho, o passeio que piso, esse, tem como sempre dois sentidos.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

O Perfume

Estava uma manhã nada interessante.
Estava uma luz indiferente.
Uma passagem de tempo angustiante.
E a minha cabeça... longe, ausente.

Nunca o percurso de alcatrão e calçada,
Da janela acompanhado,
Se tornara a vida de mão dada
Com um tempo nem certo, nem errado.

E eis que entras neste transporte.
Surgiste de onde? A mando de quem?
Vês-me e acho-me um tipo com sorte.

Vens na minha direcção,
Abrandas o passo, mas não paras.
Chamar-te seria uma boa acção,
Mas... Uma desconhecida com quem se dá de caras?

Refreei os meus sentidos.
Não todos! Pois senti esse perfume.
Seguro o meu corpo com ciúme,
Do meu cérebro de actos irreflectidos.

Sentas-te com as minhas costas,
E as virtudes de repente repostas.

Não me mexo.
Embora minha cara vire sem se mexer.
Embora meu olfacto se sinta mais apurado sem querer.
Não me mexo.

Que perfume é esse que me põe tranquilo ao rumo da vida?
Quem és tu que me fazes fechar os olhos para respirar?
Como se fosse uma fracção que me convida a acalmar.
Como se este acaso terminasse um ocaso para me despertar.

Não sei em que paragem foi que partiste.
Nem o que te trouxe para me acordar.
Não sei quem és, mas que o teu perfume existe,
Disso não saberei duvidar.

Por ti nada de platónico tive,
Segui um sentido que me fez despertar.
Se perpétuo ou apenas uma estação em que me detive,
Dir-me-ão os dias porque passar.  

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

A História de um Livro

O livro está terminado. 
Foi uma história de amor inabalável. 

O livro está fechado. 
Intensidade de uma vida incalculável. 

Foram as páginas mais duras, mais controversas, 
Os capítulos mais felizes, mais perfeitos...

Começa com duas personagens entre conversas, 
Palavras subtis gravando teus jeitos.

E ao largo era uma união eterna,
Os filhos tinham nomes, os cães tinham raça, a casa iria ser em Berna. 

Havia lá casal a quem achassem mais graça! 
Eram os dois os maiores amigos, os maiores amantes. 

Ela, uma tímida com certezas. 
Ele, um tímido com a cabeça dentro do peito. 

Mas os dois eram um mundo ancorado no volátil fio da vida. 
E de um lado o fio desfez-se com efeito. 

A volatilidade da vida criou-se nas certezas e deixou o mais que certo. 
E no peito se veio ancorar esse mundo que te queria bem perto. 

Meus olhos passam revista sintomática nesses capítulos. 
Não interessa o que faça, 
Não interessa o que encontre,
A toda a hora, em qualquer lugar, revejo os mesmos títulos. 

E neste prefácio de um novo livro, 
Queria ser por ti de novo abraçado,   
Com o amor neste choro recorrente que só por ti pode ser parado.

E neste prefácio de um novo livro, 
Quero seguir, imergir, desaparecer, 
Fugir para o espaço evitando enlouquecer.

Quero uma nova história, com um amor sem visível cume.
Seguro que em mil anos este sentimento tardará a sair,
O meu peito continua a pedir não um livro, mas a ti... 
Um novo volume. 

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Crash Into.


Só a coragem define o erro

A coragem é uma palavra cara. Já muitos morreram por falta dela. Já muitos morreram por a ter. Mas os que morrem por a ter, em caso algum se arrependem por não a ter tido antes do fim.

Ela é rara necessidade quando se entende em momentos de comodidade. É uma evidência em desgraças fundas e píncaros luminosos.

Coragem não é "fuga para a frente". A coragem é enfrentar o sentimento... o pensamento... sem ignorar.

A real diferença estende-se entre usá-la, ou não usá-la. A real diferença está e estará sempre no facto de ela ser projectada em constantes "tentativas e erros".

O erro só se saberá em caso de tentativa. Ou quando damos conta do que perdemos.

Em última análise: só o uso da coragem para várias tentativas saberá se há erro e definirá se algo foi vivido como devia... se a vida o foi.

Saudades...

O amor só é explicável quando sentido. Todas as outras formas são loucura.


domingo, 6 de janeiro de 2013

Não posso contar-te o que tanto nunca soube...

Passa das duas da manhã.
Observo os minutos que parecem não ter fim. 
Foram fugazes os tempos em que iam com o vento. 

Passa das duas da manhã. 
A minha cabeça põe-te perto de mim. 
O meu coração procura locais em que te invento. 

Nunca soube tanto, 
Nunca me lembrei de tamanha imensidão, 
Nunca imaginei que tudo chegasse a tão real. 


Lembro a tua cara de espanto, 
Ao deixares cair pelo caminho o desenho ao chão. 
Os risos que trocámos, o gozo sem mal. 

Lembro, olhando para ti: 
"Não existe a tal pessoa, até que a encontramos." 
Teu coração corou. 

Lembro, senti...
A pancada de água dentro do carro: "Vamos!"
Todos molhados... Rimos, beijámos e o mundo emulsionou. 

Passa das duas da manhã. 
Não posso dizer-te o que tanto te repeti. 
Não posso contar-te o que tanto nunca soube. 

Passa das duas da manhã. 
Parei diante da porta em que me despedi. 
Em que nunca tanto amor coube. 

Não estavas lá. 
Não estás cá. 
Não sais daqui, nem daqui. 
Vou para lá.
Fujo para cá. 
A minha vida continua em ti. 

Passa das duas da manhã.
Quero esquecer que o mundo aconteceu. 
Quero partir desta esquizofrenia inebriante, intensa, sufocante.
Quero arrancar de mim este pedaço mesmo deixando de ser eu. 
Quero voar para longe deste amor, que para amar por escolha só tem um amante. 

Passa das duas da manhã. 
Penso que foi, mas não só... 
Aqui este amor enredado numa teia. 
Fechei a porta e já estou só. 
Na tua silhueta que se repete. 
A casa está cheia. 
Sigo, mas sabes a chave no tapete.