quinta-feira, 11 de abril de 2013

Carruagem


Encostei-me a uma das laterais e olhei a carruagem bem ao fundo. Um silêncio profundo de que o ressoar dos carris em ferro já fazem parte.
Na minha cabeça saltou a "velha máxima": "Ninguém fala com ninguém nos transportes hoje em dia. Cada um segue o seu caminho. Entra mudo e sai calado."
E a minha percepção entrou em desacordo.
A rapariga que escreve uma mensagem no telemóvel. O homem sentado à frente dela que se questiona sobre o conteúdo da mesma. A mulher ao lado do homem que está cansada e fascinada com as botas da outra mulher que à minha frente boceja sem parar com os olhos vermelhos de sono. Um bocejar que contagia a rapariga numa animada conversa com o namorado, sem sequer abrirem a boca, sentados atrás de mim.
Alguém que se pergunta no final da carruagem se conhece outra pessoa que está sentada algures mais à frente. Os pensamentos de um adolescente de phones nos ouvidos berram mais alto (não os phones, os pensamentos) que os carris.
Nesta ponta está alguém que se pergunta sobre o significado do silêncio com tantas perguntas e conversas e palavras num transporte público.
Alguém que conclui que uma carruagem de metro, trás consigo uma multidão de diálogos, monólogos, perguntas retóricas e preocupações.
Alguém que conclui que a carruagem é o lugar onde mais pessoas falam umas com as outras, ainda que sem abrir a boca.
Alguém que conclui que uma carruagem pode ser, de alguma forma, o espelho dos mundos.

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