sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Cala-te um bocadinho...

Chegas-me à porta meio aflita,
Que te falta o ar, o açúcar e a hortelã, 
Que se vai a luz e o cão do lado que te irrita, 
Que a crise não é tua cidadã!

Chegas-me à janela meio insegura, 
Que te acaba o gás, a água e o perfume, 
Que o amor se foi e o tesão ninguém te cura, 
Que "é o costume"!

Tenho os dois cães a ladrar, 
E não me dás descanso. 
Se te pudesses calar, 
Para te anunciar o quanto alcanço!

Não! 
Chegas-me ao carro toda assustada, 
Que te faltam mimos, a mini-saia, a televisão, 
Que se foi o dinheiro, tens a casa assaltada, 
"Ajuda-me! Compra-me uma mansão!"

Que alívio agora que te calas. 
"Vou ver do ladrão.
Protejo-te, mas vê se não falas!
Confesso-te que há meses te tenho no coração."

Prendes a fala com um beijo arrancado e um sorriso, 
Percebendo que me prendias 
A confissão do que sentias, 
Com a tua falta de siso. 

Por via das desgraças, 
Por ventura haverá ladrão. 
Não sou um tipo de "massas", 
Mas esta, é agora a nossa mansão. 

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Amor



À noite quando me deito, 
Ainda te procuro na cama. 
Por entre toques de belo efeito
Como do oxigénio a uma chama. 

À noite quando me deito, 
Meu coração já não fala. 
Só a cabeça teu nome rarefeito
Num vazio calado que não cala. 

À noite quando adormeço, 
Minha respiração já não treme. 
Começa o pesadelo onde te peço
Numa febre que geme. 

À noite quando durmo, 
Vem o silêncio do teu grito. 
Um caminho sem rumo, 
Um paradoxo rescrito. 

Ao passado largaste-me a passagem. 
Vedaste-me a imensidão. 
Cerraste-me vista
Numa clara mensagem:
"Eis teu destino, sem solidão, 
Eis teu futuro, arrisca." 

Ao presente largaste-me a surpresa. 
Abriste-me a cortina. 
Mostraste-me a admiração.
Sem necessidade de auto-defesa, 
Meu modo, minha sina, 
É ter-te em destino na mão. 

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Completamente desprevenido


E em dias pedi mais que o Sol e a Lua. 
E em dias pedi mais que a Praça e a Rua. 
Por vezes pedimos tanto algo, que a vida nos desprevine. 

Desses, alargaram-se novos dias, 
E de novo fiz os pedidos com base em teorias. 

E numa partida, 
Avisada, mas pueril, 
Um encontrão com força de dois mundos. 
Novidade da vida, 
Um estado febril, 
Registado em segundos. 

E naqueles instantes recebi o universo. 
E naqueles instantes recebi a cidade. 
Bateu-me de frente a vida caindo o inverso. 
Acertou-me em cheio a luz da insanidade. 

Não era suposto assim, agora, aqui. 
Mas sim algo que a razão não ignora.

A paixão pura que agora me habita,
Teve o condão de me arrancar à dor maldita.

Por vezes pedimos tanto um mundo novo e alado,
Que a vida nos lança a surpresa, o inesperado.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Na minha barricada



Sento-me na minha apatia e resigno-me.
Tento o senso: é razoável.
É uma impossibilidade... e castigo-me.

Preciso de saber,
Não quero minimamente saber.

Preciso ouvir,
Não quero minimamente ouvir.

E se a minha perseguição acalma em largos momentos,
Sitio-me na minha bancada, largada em meus intentos.

A vida é pacata e letárgica.
O mundo é de uma simplicidade material.
Sem nenhum passo de mágica,
A inexistência de vida é a vida ideal.

E da minha barricada, recaio lentamente em teus passos.
Como eles serão e o que simbolizam.
Falo-te no senso comum de uma criação de laços...
... Não! E teus passos de medo frisam:
O que da letargia parecia acabado.

Triste sina a de um coração rebentado:
Que por tantos buracos escancarado,
Nos parece cheio de certezas
E depois cheio de seus opostos.
E as belezas do passado, e as lágrimas, e os gritos a postos.

E larguem-me ao vento!
E soltem-me!
E dotem-me de novo intento!

E façam bofetadas largas de nova vida,
Me rebentarem a boca!
Me fecharem a ferida!

E que se acerque de mim nova existência,
E me deflagre a rotina de um novo estampado.
Me dilacere de um novo cheiro, de uma nova essência...
De um novo mundo, com mesmo ou melhor significado.