quarta-feira, 20 de março de 2013

Os cães aqui da rua


Nesta rua há uma data de cães com problemas de personalidade.
Já houve até uma cadela estilo Camões:
Era zarolha e à noite declamava.

Vão indo e vindo numa onda de variedade,
A ladrar atrás do carro a plenos pulmões.
E o vizinho lá berrava.

Já houve até um Alemão que coxeava com o dono.
Um outro sempre doente.
Um outro estilo mono.
Um desvario de cães eloquente.

Mas não se amontoam!
Substituem-se.
Como se ao fim de um mês, saíssem ao intervalo de um jogo.
Antes que a cabeça aos vizinhos moam,
Diluem-se.
Da noite para o dia em desafogo.

Agora andam por cá os dois do costume.
Um comprido que só dorme e olha ao longe,
Que se aquece ao sol e à noite quando há lume.

E um minorca estilo raposa cheio de anabolizantes,
Que ladra como porteiro de discoteca.
Um anão enterrado em esteróides e "ridicularizantes",
Que não se deu conta da falta de "estaleca".

Se fossem uma equipa de futebol, estes eram a equipa base.

Agora há ainda um "mini-cão" anteriormente fechado,
Vivia para ladrar como se fosse um "expert" em telecomunicações.
Viu-se agora libertado,
E deixou de tecer considerações.

Aparece ao final da estrada,
E basta chamar que vem a correr.
Leva umas festas a criatura mimada,
E obedece sem conhecer.

Se fosse um poeta,
Porque Vive o Caminho inteiro,
A sentir o mundo sem atenção na meta,
Seria Alberto Caeiro.
 

sexta-feira, 15 de março de 2013

Ás vezes, o mundo é feito de papel

Ás vezes, o mundo é feito de papel.
O vento é o vento,
O sol é o sol,
O seu nascer não é mais um lago de mel.

A cor é a cor,
Os cheiros são os cheiros,
Uma flor, uma flor.

O acender dos candeeiros é apenas o respirar de uma rotina.
O abrir a cama um pedaço dela.
Sabemos o mundo que nos ensina,
Sabemos estes dias a sua aduela.



Reside agora numa palavra mais dura,
Num arrancar de gargalhada.
Num sarar a amargura.
Ser uma espécie de almofada.

Somos então felizes pelo que damos,
Pelo que apontamos.
Responsáveis por quem sempre esteve lá,
Por quem de novo aparece por cá.

Somos apenas nós próprios.
Num pleonasmo expressivo do que fomos.
Alojamo-nos nestes ópios,
Reforçando o que somos.

Somos só uma solidão durável e querida.
Que vive sozinha e interessada
Que ajuda da bancada.
Na felicidade dos que vêm mais vida.

Ás vezes, o mundo é feito de papel.
Vivemos do real e do que vemos acontecer.
Ás vezes, o mundo é feito de papel.
Até aquele sol tornar a nascer.

domingo, 10 de março de 2013

Virá a Igualdade e a diferença - Um aviso ao leitor

Julgarás que aquilo lês, 
Nunca fará de ti escravo, 
Não passará de ficção.
Mas quão errado o que crês. 

Deixa-me dizer-te que cada palavra aqui escrita, 
É teu passado, presente ou futuro. 
Um pardo rumo que a todos incita, 
A fuga que em poeta procuro. 

Nada do que houve em ti, será mais. 
Tudo o que construíste, sentiste, criaste:
Não será mais. 

Ninguém que tiveste tão perto, sentirás de novo. 
Tudo o que foram, sentiram, viveram: 
Não sentirás de novo. 

A amizade que julgaste tua, 
O amor que julgaste teu, 
A família que julgaste global:
És sozinho numa rua. 
Cristão e ateu.
Triste... Fatal. 

Dirás a ti que o mundo te ignorou. 
Que a vida te deixou. 

Dirás que nada mais de ti levará. 
Que nada mais em ti haverá. 

É estratégia, 
Coisa régia. 
De larga coroa, 
Não é coisa boa.
Olhado de lado como que desconfiado, 
"Fora de tempo" é o que te deixa irritado. 

Deixa mudar o vento. 
Vir as flores, o sol, 
E aquele sopro no destinado momento. 

Voltarás a sê-lo. 
Haverá de novo em ti. 

Será isso, mas completamente diferente. 
Será a igualdade e a diferença. 
Como a vida e a morte. 
A realidade não mente. 
Mesmo a quem não tem crença. 
Mesmo a quem deseja um corte. 

segunda-feira, 4 de março de 2013

A Vida, a Cidade


Lá fora as luzes da cidade enervam a escuridão de uma noite sem lua.
A calma do mundo repousa nos semáforos activos em estradas desertas.
A pequena brisa: o singular repouso das almas.

E sim, somos este mundo. Somos a vida que nos é entregue.
A vida de quem não se corre atrás, de quem não se soluça em desespero sem que venha uma mão cheia de nada.
A vida é e tem de ser vivida em procura pela felicidade.
Mas uma procura de vivência. Uma procura que acontece pelas peripécias. Uma procura livre de sofreguidão. Uma procura simples. Uma procura nas sortes e nos azares.

De manhã, as luzes da cidade estarão desligadas. O Sol raiará novamente.
O mundo correrá apressado nos semáforos de estradas lotadas.
A pequena brisa nem se sentirá, no meio de tanto excesso.

E o que é a Vida, se não uma sucessão de madrugadas e manhãs de uma qualquer cidade?