domingo, 27 de janeiro de 2013

Agora, sou desconhecido: Feito de infinitudes.

Que força é essa?
Que força é essa que ao te ver,
Se torna indesmentível a vontade de te ter?

Que força é essa?
Que força é essa que te querendo não te quer ter?
Que desejando teus lábios, não os quer ver?

Que mundo é este em que me encontro?
Que modo de viver,
É o querer ter e o seu contrário?

Que mundo é este em que me encontro,
Que mais parece literário?

Se eu penso,
Digo,
E já não queria dizer.
Se é tão intenso,
Sigo,
E já não quero ver.

Que vida é viver e não viver?
Que vida é amar e não querer amar?
Que vida é querer o sol e a chuva?
Que vida é querer estar e deixar?
Que vida é querer tocar e usar luva?
Que vida é o fogo e a água?
Que vida é o correr e estático?
Que vida é o inquieto e o sorumbático?

E ser tudo isto num único momento, em todos os momentos de uma vida?

Afinal, que sou eu?
Que me aconteceu?
Que pessoa?
Se a cada momento de decisão dura ou simplificada,
Não há nada que mais doa,
Que sentir qualquer das escolhas errada.

Fui o que fui.
Vivi o que vivi.
Primeiro por mim, depois por ti.

Agora, sou todos os contrários do Mundo.
Das batalhas contínuas internas e rudes.
Reflexo numa indefinição sem fundo.
Agora, sou desconhecido: Feito de infinitudes.

sábado, 26 de janeiro de 2013

I Dreamed a Dream


Existem músicas que acompanham o nosso estado de espírito e outras que alteram. Esta é uma das que o alteram. Como se o mundo parasse, não repentinamente, mas como se de uma leve brisa se tratasse.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Encontrei uma Pedra

Há alguns meses atrás estava eu num jardim. Era o jardim mais bonito que já vira. O jardim mais perfeito. As flores eram incontáveis, o sol brilhava, os canteiros estavam sempre perfeitos. Pássaros rasavam a minha cabeça. Chilreavam nas árvores. Era o jardim mais bonito e mais perfeito de sempre.

E quando, de mão dada, andava com os pés a tocarem a relva molhada, tropecei num pedra. Era uma pedra normal. Nem muito grande, nem muito pequena. Era apenas uma pedra.

Voltei no dia seguinte ao jardim. E examinei a pedra. De repente dei por mim frente-a-frente com uma rocha. Não era uma simples rocha. Era um menir. E esse menir era afinal tão grande e tão alto que mais parecia uma montanha. E comecei a partir a rocha. Com um martelo fui partindo. Fui esculpindo. E levou horas...

O trabalho não terminou por ali. Voltei noutro e noutro dia. E finalmente consegui chegar ao centro da rocha! Parti, rebentei, esculpi, martelei. Não deixei nada por partir até chegar ao núcleo daquela montanha de rocha. E quando aí cheguei... Encontrei mais rocha? Perguntará o leitor com toda a sapiência e lógica que de facto teria. Mas para minha e sua surpresa: não. E que encontrei eu, se não se tratou de mais rocha? A resposta é "nada". Encontrei vácuo.

E larguei as ferramentas no chão que não era mais relva molhada, de um jardim que afinal... se tratava agora ou sempre de um infinito branco. O chão branco. E nem paredes, nem tecto. Só infinito branco.

A montanha de rocha lá a deixei. Aberta até ao núcleo, tal como a larguei.
Deixei para sempre ou por momentos (não sei) aquele espaço infinito e segui num passeio curto.
Lá, ficaram apenas o infinito branco e a montanha de rocha aberta, esperando que o nada seja preenchido.

O caminho de volta poderá sempre ser feito. Porém outros jardins, outras cidades, outros campos existirão.
Mas Aquela rocha... Essa lá estará. E o caminho, o passeio que piso, esse, tem como sempre dois sentidos.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

O Perfume

Estava uma manhã nada interessante.
Estava uma luz indiferente.
Uma passagem de tempo angustiante.
E a minha cabeça... longe, ausente.

Nunca o percurso de alcatrão e calçada,
Da janela acompanhado,
Se tornara a vida de mão dada
Com um tempo nem certo, nem errado.

E eis que entras neste transporte.
Surgiste de onde? A mando de quem?
Vês-me e acho-me um tipo com sorte.

Vens na minha direcção,
Abrandas o passo, mas não paras.
Chamar-te seria uma boa acção,
Mas... Uma desconhecida com quem se dá de caras?

Refreei os meus sentidos.
Não todos! Pois senti esse perfume.
Seguro o meu corpo com ciúme,
Do meu cérebro de actos irreflectidos.

Sentas-te com as minhas costas,
E as virtudes de repente repostas.

Não me mexo.
Embora minha cara vire sem se mexer.
Embora meu olfacto se sinta mais apurado sem querer.
Não me mexo.

Que perfume é esse que me põe tranquilo ao rumo da vida?
Quem és tu que me fazes fechar os olhos para respirar?
Como se fosse uma fracção que me convida a acalmar.
Como se este acaso terminasse um ocaso para me despertar.

Não sei em que paragem foi que partiste.
Nem o que te trouxe para me acordar.
Não sei quem és, mas que o teu perfume existe,
Disso não saberei duvidar.

Por ti nada de platónico tive,
Segui um sentido que me fez despertar.
Se perpétuo ou apenas uma estação em que me detive,
Dir-me-ão os dias porque passar.  

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

A História de um Livro

O livro está terminado. 
Foi uma história de amor inabalável. 

O livro está fechado. 
Intensidade de uma vida incalculável. 

Foram as páginas mais duras, mais controversas, 
Os capítulos mais felizes, mais perfeitos...

Começa com duas personagens entre conversas, 
Palavras subtis gravando teus jeitos.

E ao largo era uma união eterna,
Os filhos tinham nomes, os cães tinham raça, a casa iria ser em Berna. 

Havia lá casal a quem achassem mais graça! 
Eram os dois os maiores amigos, os maiores amantes. 

Ela, uma tímida com certezas. 
Ele, um tímido com a cabeça dentro do peito. 

Mas os dois eram um mundo ancorado no volátil fio da vida. 
E de um lado o fio desfez-se com efeito. 

A volatilidade da vida criou-se nas certezas e deixou o mais que certo. 
E no peito se veio ancorar esse mundo que te queria bem perto. 

Meus olhos passam revista sintomática nesses capítulos. 
Não interessa o que faça, 
Não interessa o que encontre,
A toda a hora, em qualquer lugar, revejo os mesmos títulos. 

E neste prefácio de um novo livro, 
Queria ser por ti de novo abraçado,   
Com o amor neste choro recorrente que só por ti pode ser parado.

E neste prefácio de um novo livro, 
Quero seguir, imergir, desaparecer, 
Fugir para o espaço evitando enlouquecer.

Quero uma nova história, com um amor sem visível cume.
Seguro que em mil anos este sentimento tardará a sair,
O meu peito continua a pedir não um livro, mas a ti... 
Um novo volume. 

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Crash Into.


Só a coragem define o erro

A coragem é uma palavra cara. Já muitos morreram por falta dela. Já muitos morreram por a ter. Mas os que morrem por a ter, em caso algum se arrependem por não a ter tido antes do fim.

Ela é rara necessidade quando se entende em momentos de comodidade. É uma evidência em desgraças fundas e píncaros luminosos.

Coragem não é "fuga para a frente". A coragem é enfrentar o sentimento... o pensamento... sem ignorar.

A real diferença estende-se entre usá-la, ou não usá-la. A real diferença está e estará sempre no facto de ela ser projectada em constantes "tentativas e erros".

O erro só se saberá em caso de tentativa. Ou quando damos conta do que perdemos.

Em última análise: só o uso da coragem para várias tentativas saberá se há erro e definirá se algo foi vivido como devia... se a vida o foi.

Saudades...

O amor só é explicável quando sentido. Todas as outras formas são loucura.


domingo, 6 de janeiro de 2013

Não posso contar-te o que tanto nunca soube...

Passa das duas da manhã.
Observo os minutos que parecem não ter fim. 
Foram fugazes os tempos em que iam com o vento. 

Passa das duas da manhã. 
A minha cabeça põe-te perto de mim. 
O meu coração procura locais em que te invento. 

Nunca soube tanto, 
Nunca me lembrei de tamanha imensidão, 
Nunca imaginei que tudo chegasse a tão real. 


Lembro a tua cara de espanto, 
Ao deixares cair pelo caminho o desenho ao chão. 
Os risos que trocámos, o gozo sem mal. 

Lembro, olhando para ti: 
"Não existe a tal pessoa, até que a encontramos." 
Teu coração corou. 

Lembro, senti...
A pancada de água dentro do carro: "Vamos!"
Todos molhados... Rimos, beijámos e o mundo emulsionou. 

Passa das duas da manhã. 
Não posso dizer-te o que tanto te repeti. 
Não posso contar-te o que tanto nunca soube. 

Passa das duas da manhã. 
Parei diante da porta em que me despedi. 
Em que nunca tanto amor coube. 

Não estavas lá. 
Não estás cá. 
Não sais daqui, nem daqui. 
Vou para lá.
Fujo para cá. 
A minha vida continua em ti. 

Passa das duas da manhã.
Quero esquecer que o mundo aconteceu. 
Quero partir desta esquizofrenia inebriante, intensa, sufocante.
Quero arrancar de mim este pedaço mesmo deixando de ser eu. 
Quero voar para longe deste amor, que para amar por escolha só tem um amante. 

Passa das duas da manhã. 
Penso que foi, mas não só... 
Aqui este amor enredado numa teia. 
Fechei a porta e já estou só. 
Na tua silhueta que se repete. 
A casa está cheia. 
Sigo, mas sabes a chave no tapete.