sexta-feira, 23 de maio de 2014

Um Céptico Sonhador


É pérfido o caminho,
Da minha janela é o que vejo.
Sinto raiva de seguir sozinho
Mas é o estar "só" que almejo.

As cortinas balouçam ao vento
Batem com baque no seu próprio tempo,
Marcando o meu, chamando o céu.

Voei à luz do luar
Mais vezes do que o Sol tocou o mar.
Sem nunca sair, sem nunca zarpar.
Sou um céptico que nunca parou de sonhar.

Fui a mundos onde encontrei vida
Fui a galáxias onde vivem os super-heróis.
Deixando inesquecível memória esquecida,
Vivendo novos luares, vivendo novos sóis.

Não saí de mim próprio, nem me evaporei.
Já nem sei qual o meu Ópio, já nem sei se vivo ou se viverei.

Fecho a janela que são horas de resgatar
Os sonhos que fui matando.
Não sei bem onde os reencontrar
Serão eles as sombras que me vão imitando?

sábado, 17 de maio de 2014

O Amor veste-se com Camisa
















Não quero estar a desconsiderar a camisa, 
Mas é facto que de manga curta, 
É estranha e profetisa
Um desleixo meio inacabado:
Como sendo um triste alfaiate, 
Que preferindo o inesperado, 
Vende-as tentando o acicate, 
Esperando um comprador mal-informado.

Ofereceram-me algumas. 
E agora uso... nenhumas. 

Nunca gostei da camisa, 
Até ma oferecerem. 
Ainda hoje não gosto da camisa. 
Até ma quererem. 

Um paradoxo estilístico, 
No bom sentido da palavra. 
Porque são algo de místico. 
São algo para que não existe palavra. 

Uma branca, uma azul. 
As que me lembro de momento. 
Dizias que ficava "cool", 
Dizias que eram boas para o momento. 

Explicavas esse teu intento, 
Em mudar meu estilo patético. 
O desconforto que aquilo trazia, 
Deixou-me sempre céptico. 
Nunca gostei, fingia. 

Eu nunca gostei de manga curta na camisa. 
Ainda hoje não as visto. 
Em cada botão mora uma poetisa, 
Em cada ponto, um pouco disto. 

Amo as camisas. 
Mesmo que nunca me sejam precisas. 
Não são a roupa, são o passado em brisas.

Não gosto de camisas. 
Gosto daquelas. 
Amo as camisas. 
O Amor veste-se com elas. 

quinta-feira, 8 de maio de 2014

O Ramo e a Folha

Tenho sentido as vidas utópicas,
Que vou vivendo sem nunca viver.
Envolvido em ideias microscópicas
Sem nunca conseguirem ser.

Deparei-me de tarde, ao anoitecer,
Num repente repentino empalidecer,
Da folha duma árvore que para crescer
A privou do oxigénio, deixando-a morrer.

E nestas duas quadras tão perdidas,
Tão longe uma da outra,
Se explicaram as minhas vidas,
Que se perderam de outra.

E a folha já caiu, já voou.
Ouvi-a partir, ouvi o vento que a levou.

Do ar e dos insectos que a corroeram,
De todos eles, eu sei.
Há tanto tempo, que eles próprios já faleceram.
Há tanto tempo, que no ar já os respirei.

Fito um ramo agora sozinho,
Lembrando a folha desaparecida.
Foi sem volta, ficou como espinho.
E o ramo a despontar nova vida.