Tenho sentido as vidas utópicas,
Que vou vivendo sem nunca viver.
Envolvido em ideias microscópicas
Sem nunca conseguirem ser.
Deparei-me de tarde, ao anoitecer,
Num repente repentino empalidecer,
Da folha duma árvore que para crescer
A privou do oxigénio, deixando-a morrer.
E nestas duas quadras tão perdidas,
Tão longe uma da outra,
Se explicaram as minhas vidas,
Que se perderam de outra.
E a folha já caiu, já voou.
Ouvi-a partir, ouvi o vento que a levou.
Do ar e dos insectos que a corroeram,
De todos eles, eu sei.
Há tanto tempo, que eles próprios já faleceram.
Há tanto tempo, que no ar já os respirei.
Fito um ramo agora sozinho,
Lembrando a folha desaparecida.
Foi sem volta, ficou como espinho.
E o ramo a despontar nova vida.
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