quinta-feira, 27 de março de 2014

A Demora



Sempre fui um tipo calado.
Nunca me deixei falar. 
Que o que é pensado, 
Sai sempre sem pensar. 

Nesta música que abracei, 
Deixei o porquê de criar. 
Levando o resgatar do que crio,
Sem nunca musicar do que rio. 

Conto-me em melancolias. 
Conto-me em euforias. 
É certo que a vida é aguarela, 
Mas a graça que encontro nela, 
Está no negro e na luz: 
Dignos originários dessa paleta que nos seduz. 

E por isso sou um tipo calado, 
Num recado desconfortável, 
De uma incalculável pasmaceira.

Estranho-me em momentos normais.
Quero estar mais perto do brilho, 
Ou ficar pelo trilho do breu. 
Onde dos demais sou mais eu. 

Só recuso a passividade de uma certa incapacidade, 
De mudar o sítio em que estamos. 
Na urgência de passar esta inutilidade, 
Que é não chegar ao lugar para onde vamos. 

Recuso-me a viver fechado numa linearidade com controlo, 
Com tanto de viciante como de entediante.
Como se a vida fosse revivida no consolo 
De reviver uma recordação inexistente de origem pouco desviante. 

No final, a vida terá sido o rasgo e a espora. 
A recordação de viver sem a Demora. 



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