Cheguei ao centro comercial já tu estavas pela mesa.
Sentada na tua mesa, sozinha. Fui embora mas voltei atrás. Tinha de ficar por ali e o teu olhar disse-me que não haveria melhor lugar. Sentei-me na mesa ao lado. Sentei-me da mesma forma, qual espelho, na esperança que me fosses fitando.
Peguei no telemóvel para me ocupar... Não seria um pouco estranho ficar ali a olhar para ti? Pois. Foi o que me pareceu. É que nisto de trocar olhares, temos de ser subtis. Tu foste olhando e sorrindo, como quem procurava que eu deixasse o telemóvel, mas é preferível manter isto assim. Sem mexer nos "menus", passo a ser só um sociopata.
Tu sorrias e olhavas. Demonstravas interesse e davas dentadas no teu almoço ao ritmo do meu mexer no telemóvel. Se não o fizesses, a sociopata eras tu. Eu iria achar demasiado assustador ter uma rapariga sentada ao meu lado estática a olhar para mim... Iria? Não. Afinal, acho que não. A não ser que fosse uma rapariga feia. Que de todo não era o teu caso.
E lá tentavas tu, ocupar cada sentido com o almoço. Só para dizer que olhavas e sorrias para mim "por acaso". A maior parte do tempo, estavas ocupadíssima a olhar o feitio do papel da tua sandes, a ouvir o estalar da salada, etc.
E no meio de outro sorriso, disseste-me um "boa tarde" e seguiste olhando para mim.
Não saí da cadeira. Não sei o que me deteve, mas nada me impeliu. Fiquei só ali a sorrir-te de volta e a ver-te seguir o teu caminho. A pensar em que mundo se tornaria o meu, se te tivesse seguido. Que mundo seria o meu, se te tivesse pedido o número, perguntado o nome e convidado para um almoço na mesma mesa. Não hoje. Amanhã. Afinal, ninguém almoça duas vezes.
E com um murro na mesa que não dei, dei-me a perceber que este tipo de almoço não nos aconteceria uma outra vez. Burro.