segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Não tem sentido? Eu não escrevo só para ti!















São 3 da manhã agora,
E eu vivo o segundo ao milésimo.
Estou acordado, embora,
Sonhe mais aqui
Que de olhos cerrados
Num sono afora.

Resolvi sentar-me na cama,
Esperar o tempo em que o sono me chama,
Para evitar ficar acordado
Sem poder escrever, intimidado
Com as rimas a discorrer,
No sentido que mas fazem aparecer.

Tenho sentido mais o gosto da comida e do mar,
Mesmo sem comer, mesmo sem me aproximar
Da água que me possa molhar.

E me molha!
Porque a pele está húmida da falta de juízo
Que por aqui se abateu.
Pareço até perder o siso no meio da seriedade
Em que navega um sorriso,
Em que chega um riso de sinceridade.

Estes versos parecem-me demasiado curtos e sem sentido
A não ser o sentido de cada um isolado.
Se calhar esta foi a pior ideia que podia ter tido,
Até porque o sono está a deixar-me cansado.

Não há sentido no que acabei de dizer,
Ou talvez haja...
Afinal, do que se trata o que acabei de escrever,
Se não do todo que venho sentindo?

Sim! Pára de pensar só em ti e vê o meu lado!
Eu não escrevo só para ti,
Escrevo para me sentir... concretizado?
Exorcizado, pois também!

Não estou num caos, pelo contrário.
O mundo é que tem parecido diferente, o salafrário!

terça-feira, 15 de julho de 2014

Nunca Olhes a Solidão Muito de Perto
















Pedro colou a cerveja na estante,
Debruçou-se sobre o sofá
Suspirando, na respiração restante,
Olhando o gato e o que ele sonhará...

"Sempre que te sintas bem na tua solidão,
Sempre que te encontres bem contigo,
Não olhes muito de perto esse chão,
Perder-te-ás como um mendigo.

Sempre que o mundo te soe perfeito
Só assim quieto onde só tu te encontras,
Não olhes muito de perto esse efeito,
Será mais falso que manequins de montras...

Nunca olhes a solidão muito de perto,
Ou saberás que não és aquilo que vês.
És gato e não sabes o que digo de certo...
Nem eu sei como passou mais um mês".

Termina a cerveja e o gato abre os olhos
Não está sozinho como pensa,
Mas é melhor não ver muito de perto...

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Carta de desculpa ao "Depois"














Não é certamente um problema teu.
Nem sequer de seres melhor,
Nem diferente do teu antecessor.

Simplesmente és "Depois" por existir um "Antes",
E nesses trajectos dantescos,
Limita-mo-nos a manter interessantes
Quaisquer futuros principescos.

Porque nos sentimos pedantes.
Sem te querer receber,
Mas sem querer voltar.

Desculpa por ser tão preguiçoso.
Não é minha intenção mandar-te embora,
Nem que me aches jocoso,
Permanecer cá dentro, deixando-te aí fora.

Só que não me movo como queria e não quero.
Não paro, e vou ficando e aqui espero.

Tende paciência que algum dia hei-de sair
Deste jogo de paciência,
Jogado comigo em que me deixei cair.
Onde me recordo do "Antes" pela cadência,
Onde me fecho nos olhos, sem dormir.

Ainda ontem te vi ao virar da esquina,
Ainda ontem de encontrei, de olhar doce, do outro lado da estrada.
Eras interessante, prometedora de aparência fina.
Vens todos os dias, de todas as formas - a errada.

É como te vejo.
Estou feito um dandy, uma almofada de sofá.
Incapaz de dar um beijo,
Sem sentir que não fiquei lá.

Desculpa mandar-te embora tantas vezes.
Tenho pensado que não serei caso único.
Dás-me um, dois meses?

Talvez uns dias.
Abro-te as portas, podes entrar.
"E aquelas coisas que sentias?"
Direi: "A partir de hoje, somos só dois ao jantar."

Desculpa.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Um Céptico Sonhador


É pérfido o caminho,
Da minha janela é o que vejo.
Sinto raiva de seguir sozinho
Mas é o estar "só" que almejo.

As cortinas balouçam ao vento
Batem com baque no seu próprio tempo,
Marcando o meu, chamando o céu.

Voei à luz do luar
Mais vezes do que o Sol tocou o mar.
Sem nunca sair, sem nunca zarpar.
Sou um céptico que nunca parou de sonhar.

Fui a mundos onde encontrei vida
Fui a galáxias onde vivem os super-heróis.
Deixando inesquecível memória esquecida,
Vivendo novos luares, vivendo novos sóis.

Não saí de mim próprio, nem me evaporei.
Já nem sei qual o meu Ópio, já nem sei se vivo ou se viverei.

Fecho a janela que são horas de resgatar
Os sonhos que fui matando.
Não sei bem onde os reencontrar
Serão eles as sombras que me vão imitando?

sábado, 17 de maio de 2014

O Amor veste-se com Camisa
















Não quero estar a desconsiderar a camisa, 
Mas é facto que de manga curta, 
É estranha e profetisa
Um desleixo meio inacabado:
Como sendo um triste alfaiate, 
Que preferindo o inesperado, 
Vende-as tentando o acicate, 
Esperando um comprador mal-informado.

Ofereceram-me algumas. 
E agora uso... nenhumas. 

Nunca gostei da camisa, 
Até ma oferecerem. 
Ainda hoje não gosto da camisa. 
Até ma quererem. 

Um paradoxo estilístico, 
No bom sentido da palavra. 
Porque são algo de místico. 
São algo para que não existe palavra. 

Uma branca, uma azul. 
As que me lembro de momento. 
Dizias que ficava "cool", 
Dizias que eram boas para o momento. 

Explicavas esse teu intento, 
Em mudar meu estilo patético. 
O desconforto que aquilo trazia, 
Deixou-me sempre céptico. 
Nunca gostei, fingia. 

Eu nunca gostei de manga curta na camisa. 
Ainda hoje não as visto. 
Em cada botão mora uma poetisa, 
Em cada ponto, um pouco disto. 

Amo as camisas. 
Mesmo que nunca me sejam precisas. 
Não são a roupa, são o passado em brisas.

Não gosto de camisas. 
Gosto daquelas. 
Amo as camisas. 
O Amor veste-se com elas. 

quinta-feira, 8 de maio de 2014

O Ramo e a Folha

Tenho sentido as vidas utópicas,
Que vou vivendo sem nunca viver.
Envolvido em ideias microscópicas
Sem nunca conseguirem ser.

Deparei-me de tarde, ao anoitecer,
Num repente repentino empalidecer,
Da folha duma árvore que para crescer
A privou do oxigénio, deixando-a morrer.

E nestas duas quadras tão perdidas,
Tão longe uma da outra,
Se explicaram as minhas vidas,
Que se perderam de outra.

E a folha já caiu, já voou.
Ouvi-a partir, ouvi o vento que a levou.

Do ar e dos insectos que a corroeram,
De todos eles, eu sei.
Há tanto tempo, que eles próprios já faleceram.
Há tanto tempo, que no ar já os respirei.

Fito um ramo agora sozinho,
Lembrando a folha desaparecida.
Foi sem volta, ficou como espinho.
E o ramo a despontar nova vida.

sábado, 19 de abril de 2014

Eu Não te Tomava por Sociopata


Cheguei ao centro comercial já tu estavas pela mesa. 
Sentada na tua mesa, sozinha. Fui embora mas voltei atrás. Tinha de ficar por ali e o teu olhar disse-me que não haveria melhor lugar. Sentei-me na mesa ao lado. Sentei-me da mesma forma, qual espelho, na esperança que me fosses fitando. 
Peguei no telemóvel para me ocupar... Não seria um pouco estranho ficar ali a olhar para ti? Pois. Foi o que me pareceu. É que nisto de trocar olhares, temos de ser subtis. Tu foste olhando e sorrindo, como quem procurava que eu deixasse o telemóvel, mas é preferível manter isto assim. Sem mexer nos "menus", passo a ser só um sociopata. 
Tu sorrias e olhavas. Demonstravas interesse e davas dentadas no teu almoço ao ritmo do meu mexer no telemóvel. Se não o fizesses, a sociopata eras tu. Eu iria achar demasiado assustador ter uma rapariga sentada ao meu lado estática a olhar para mim... Iria? Não. Afinal, acho que não. A não ser que fosse uma rapariga feia. Que de todo não era o teu caso.
E lá tentavas tu, ocupar cada sentido com o almoço. Só para dizer que olhavas e sorrias para mim "por acaso". A maior parte do tempo, estavas ocupadíssima a olhar o feitio do papel da tua sandes, a ouvir o estalar da salada, etc. 
E no meio de outro sorriso, disseste-me um "boa tarde" e seguiste olhando para mim. 

Não saí da cadeira. Não sei o que me deteve, mas nada me impeliu. Fiquei só ali a sorrir-te de volta e a ver-te seguir o teu caminho. A pensar em que mundo se tornaria o meu, se te tivesse seguido. Que mundo seria o meu, se te tivesse pedido o número, perguntado o nome e convidado para um almoço na mesma mesa. Não hoje. Amanhã. Afinal, ninguém almoça duas vezes. 
E com um murro na mesa que não dei, dei-me a perceber que este tipo de almoço não nos aconteceria uma outra vez. Burro.